quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Sangue Cruzado - 2º Capítulo
2º Capítulo
Cada vez mais me sentia me sentia invulgar e tão diferente daquilo que era antes. A minha vida mudara consideravelmente, considerando o quão foi difícil deixar a minha família para trás. Mas eles não me poderiam ajudar. Tomei aquela decisão de pura e espontânea vontade. Não queria expô-los ao perigo de terem uma criatura vulnerável ao sangue perante eles. Segundo após segundo, pensei se ir ou não para a Casa da Noite (a mais próxima que estivesse de Vancouver) fosse talvez uma solução que estaria pendente. Não. De certo que me dariam cargos e aulas bastante puxadas e eu não estava minimamente preparada para as arrecadar em cima dos ombros.
Virei-me para o outro lado da cama e fechei os olhos. Tudo estava muito sossegado e o silêncio irrompia o ar com o seu manto. Pelos vistos, os vizinhos do quarto ao lado tinham saído. Senão não sei como haveria de poder descansar. Olhei com relutância para as horas marcadas no meu relógio de pulso. Fiquei mesmo surpreendida, pois este indicava 19:00 horas. Tinha assim tanto sono que nem eu própria imaginara? Estava a sofrer a Mudança e bem que podia assegurar que o inesperado podia acontecer. Nyx era misteriosa e as suas decisões ainda eram mais.
Levantei-me e fui até à casa de banho, tomando um duche rápido para me refrescar as ideias e lavar a cabeça dos pensamentos inquietantes que me aborreciam. Vesti uma camisola preta de manda comprida e umas calças de ganga um pouco rasgadas nas pontas. Acho que era mesmo feito delas. Calcei umas botas que andavam descaídas no quarto e saí do motel. Tive o cuidado de meter algumas madeixas de cabelo a tapar a minha Marca, se não quem sabe o que aconteceria. Possivelmente um escândalo ou uma montada de gente com forquilhas e tochas acesas à minha procura, perseguindo-me para onde quer que fosse.
O dia-a-dia normalizado continuava com o seu percurso. A maioria das pessoas estavam ainda a trabalhar, enquanto o resto se mantinha na calma e reconfortante paz que a natureza oferecera. Por vezes, sentia inveja deles. Estar assim como eles sem ter nada a recear. Poder ter uma vida sossegada e livre de perigos. Deixando de lado aquelas preocupações que faziam pouco sentido, olhei de relance para o Monsuit. Estava com boa clientela hoje. Também não me admirava nada, porque era mais ou menos quando a noite chegava que mais pessoas iam tomar lá o seu suposto cafezinho matinal.
Não podia falar muito. Eu também lá ia quando o tempo mo permitia. Nunca me levantava de manhã. Dormia sempre que o sol raiava no cume do céu e quando a noite chegava, levantava-me e segui-a com a pouca vida que possuía. Tendo em conta que tinha duas hipóteses entre mãos: completar a Mudança ou morrer e desaparecer por completo, a vida não se tornava mais fácil de arrecadar. Mas explorar todo o mundo à procura de algo que fosse realmente importante e que fizesse sentido para mim era mesmo uma complicação dos diabos.
Porém, tudo teria uma explicação lógica. Pelo menos, era nisso que acreditava antes de ser marcada. Todas as minhas crenças foram-se deixando para trás enquanto eu avançava face a uma vida completamente nova e desconhecida donde não conhecia nada nem ninguém. Estava solta num mundo que ocultava muitos segredos, onde o sobrenatural parecia ganhar vida à minha medida que dava um passo em frente. Manter-me incógnita e discreta parecia ser a única maneira de sobreviver e fui adoptando-a ao meu próprio ser.
Parei em frente a um parque, donde se viam baloiços e caixas de areia onde as crianças humanas costumam brincar nos seus tempos livres. Comecei a recordar alguns dos bons momentos que passara com a minha família, o que me fez soltar uma lágrima que traçava um caminho até à zona do queixo. Fui sentar-me num daqueles baloiços, procurando ainda indefinidas respostas para tudo o que se havia passado comigo. Em pensamentos, fui retratando todos os altos e baixos que a minha “nova vida” poderia ter, mas não podia manter grandes esperanças. Podia rejeitar a mudança a qualquer altura e morrer instantaneamente.
Dantes pouco sabia sobre Nyx e os seus conhecimentos. Por sorte, tinha livros históricos na prateleira duma estante da minha antiga casa que me ajudaram a assimilar pouco a pouco todo o seu conteúdo. Com isso, consegui safar-me por uns tempos neste tempo desolado em que vivo neste momento.
Tinha tosses compulsivas já há uns dias. Devo estar a ficar doente, mas porquê? Apenas tinha duas soluções: ir para uma Casa da Noite, o que está seriamente fora da minha lista de coisas a cumprir ou encontrar um vampyro adulto e permanecer a seu lado por algum tempo. Se bem que a segunda solução me parecia a melhor. Detestava acima de tudo andar em colégios e este encaixava, de certa forma, naquela categoria bizarra. Por um lado, desejava uma vida normal tal e qual como eu sempre quisera, sendo igual à minha “vida de sonho”.
A lua já repousava no céu, trazendo o seu manto estrelado para iluminar cada canto escuro. Tornava-se numa visão digna de se observar, se estivesse no campo. Sendo assim, tinha que me contentar com aquilo que tinha. Ergui-me do baloiço e fui para o Monsuit, desejando outro daqueles quentes mas suaves cafés para me acalmar a garganta e fazer esquecer as poucas fatigantes horas que restavam ao dia.
(A partir de agora é todos os sabados e domingos)
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1 comentário:
EStou a gostar muito!
Continua!
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