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sábado, 16 de outubro de 2010

Sangue Cruzado - 7º Capítulo

7º Capítulo

Ouvi umas impertinentes batidas na porta do quarto. Embrenhei-me mais nos lençóis e tentei encerrar a minha audição mas sem sucesso. Levantei-me posteriormente e encarei-a. Continuava a ouvir aquele som irritante, mas mesmo assim, abri a porta para ver quem tinha ousado acordar-me ainda por cima a meio da manhã. Era Fred. Vinha vestido de uma forma pouco normal para um rapaz, mas isso também não parecia importar-lhe. Envergava calças de ganga azuis com uma ligeira dobra nas pontas, uma camisola branca sem qualquer padrão anexado e umas sapatilhas pretas.
Mas o seu sorriso foi o mais chamativo de tudo. Olhava para mim de uma maneira simples, mas estranha. O seu cabelo loiro já não estava tão amarrotado como ontem, mas sim liso recém-penteado. Contudo, os seus olhos vermelhos ainda me punham assustada e quase ao ponto de me deixar totalmente dominada pelo medo. Algo que não quis, não queria e que não irei demonstrar. Ergui-me perante ele, ainda a desviar-me um pouco para a esquerda devido ao sono.
- O que é que estás aqui a fazer? – Perguntei, enquanto esfregava os olhos irritados por não terem o descanso que lhes faltava.
- Vim ver se querias ir dar uma volta pela cidade. Dar uma vista de olhos ou assim. – Respondeu de forma agradavelmente educada.
Ok. Isto não me estava mesmo a acontecer. Eu a dormir sossegada e este vem logo com uma de dar uma volta? Não era costume estar muito tempo acordada durante a manhã e muito menos à tarde. Os vampyros da minha raça estão mais acostumados a andar em liberdade à noite. Não que a luz do sol nos fizesse algum mal ou coisa do género, mas estávamos mais acostumados à noite do que ao dia em si. Por isso ainda me sentia cansada.
- Não posso. Ainda quero dormir e tu vais sair daqui e não me chateares por umas boas horas. – Respondi revoltada, só pelo facto de me ter acordado.
- Pronto, percebi. – Disse, enquanto se preparava para sair. – Depois falamos então. Bons sonhos, Scarlett.
Fechei a porta e reencaminhei-me de novo para a cama, enquanto ouvia passos ligeiros a afastarem-se cada vez mais do meu quarto. Finalmente silêncio. Estendi-me sobre o colchão, puxando os lençóis para junto do meu corpo. Mais uma vez, o sono consumiu o meu cansaço e levou-me para o seu dorso, aconchegando-me com as suas imagens carenciadas. Algo que não pude deixar de pensar foi no facto de ter sido um pouco fria para com Fred. Mas ele não me devia ter acordado batendo repetidamente na porta. Mais tarde, tinha que lhe pedir as mais sinceras desculpas.
O meu corpo viu-se emaranhado numa tensão que não nunca havia sentido antes. Cada parte de mim arqueava de dor e aquilo parecia nunca cessar. Tinha medo. Acho que estava prestes a mudar-me. Ou a rejeitar-me. Já nem sabia bem, mas a dor era insuportável. Caí da cama a ofegar mas não parou. Comecei a contorcer-me toda no chão, rogando à Deusa para que fizesse aquilo tudo parar. Ainda mal havia sido marcada e já estava a acontecer-me aquilo tudo. Não era justo. Não era. Suores frios percorreram-me o pescoço. Entretanto, a minha visão começava a distorcer-se. A enfraquecer cada vez mais. E, por fim, fechei os olhos. Já não sentia nada.
Tudo aquilo que havia feito de nada servira. Todo o cuidado que tivera não tinha servido para nada perante aquela situação. Por momentos, pressenti que ia morrer e juntar-me aos meus antepassados. Mas ainda me sentia bem firme à terra. Tentei abrir os olhos com a esperança de ver, mas nada. Estava fraca. Ficara gravemente doente por uma estupidez minha e por não ter ido para uma Casa da Noite. Pelos livros que havia lido, não podia estar muito longe duma ou de um vampyro adulto. Por alguma razão, a imagem de Fred viera-me à cabeça. Ele era um vampiro, embora fosse diferente da única espécie de que me deram conhecimento.
Será que podia estar a seu lado sem que ele próprio me fizesse mal? Era misterioso. Não revelara grande coisa do seu passado nem nada sobre a sua transformação. Poderia ter sido demasiado doloroso para se poder recordar ou tentara reprimir as suas emoções a ponto de fechar a cadeado todas as suas memórias anteriores. Não sabia de nada. Só tinha incertezas. À medida que já começava de novo a respirar com mais alívio, fui-me levantado enquanto me segurava à ponta da cama com as mãos. As minhas pernas tremiam e quase não me conseguia erguer. Dentei-me de novo por cima do colchão, sem trazer o único conforto que tinha enquanto dormia.
Por pouco, não começava a rejeitar a mudança. Tenho que arranjar uma solução. Tinha que haver uma simples sem ter de recorrer a uma Casa da Noite. Mas todas as hipóteses que eu tinha estavam prestes a esfumar-se. Eu não queria morrer. Não agora que tinha estabelecido naquela cidade encantadora. Não agora que sabia que havia mais do que uma espécie de vampiros a viver entre os humanos. Não agora que achava que gostava repentinamente de Fred, por mais que fossem claras as evidências.
Marcada apenas há uns dias, viver para Vancouver, encontrar um vampiro, rejeitá-lo e só depois quando estou a meio de um sofrimento é que penso que posso gostar dele parecia-me um bocado egoísta da minha parte. Maldito destino que me fez esta tramóia. Realmente, eu estava alterada. Já não era a mesma de antes. Mudara para algo diferente, algo que já não era eu. Já não me sentia humana, embora ainda o parecesse. Ainda não havia passado ou rejeitado a mudança, mas cada vez mais me sentia outra pessoa. Era uma nova e diferente Scarlett Parker, com a possibilidade de se tornar uma vampyra adulta ou morrer nos braços da sua Deusa.

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