Capítulo 10
Cada minuto tornava-se num segundo precioso que resguardava no meu interior com todo o cuidado possível. Guardá-lo com a possibilidade de voltar a recordá-lo quando chegar a altura. Mas por enquanto, deixei-me encobrir pelos sentimentos que me puxavam para ele. Paul era único e era o único na terra que sabia quem eu era. Ele vira as minhas asas brancas e passou solenemente as suas mãos por ela como se de um elemento da própria natureza se tratasse. Como podia ele ser tão meigo comigo?
- Paul… - Murmurei num segundo parado.
Ele voltou a unir os seus lábios aos meus, levando ambas as mãos à minha cintura. Ele era relativamente quente, sendo algo mais do que um humano. Podia ser o facto de ele ser um lobisomem, mas não era mesmo isso. Ele parecia estar realmente a importar-se comigo, algo que nunca sentira nem havia observado após anos junto de outros anjos. Separei-me dele, agarrando numa das mãos. Começamos a caminhar por entre os trilhos que a floresta nos oferecia. Estava tudo calmo e incansavelmente óptimo.
O silêncio e a harmonia conjugadas num único ponto. Era perfeito. Talvez o paraíso onde residira tivesse algo parecido com isto, mas pelo que via nada se comparava com a magia da natureza. À medida que avançamos cada vez mais, a clareira afastava-se aos poucos. Senti um certo alívio por ter saído de lá. O sangue do animal, apesar de estar apenas encrespado à terra revoltada e à casca de uma árvore inocente, era algo que me incomodava de certa forma. Voltei a pensar naquela eternidade que me parecera uma maldição.
Sempre pensara nela como algo inacessível, que não se podia tocar ou sequer ver. Era algo que simplesmente era reservado àqueles com capacidades e qualidades para se tornarem anjos. Mas continuava a pensar da mesma forma. Ainda achava que não merecia ser um anjo. Não depois do que havia acontecido no meu passado. A minha atenção captou a de Paul, voltando-se para mim com um sorriso fascinante que me deu um claro tom de rosa nas maçãs do rosto.
Quando demos por isso, já estávamos a avistar a praia na linha do horizonte. Rapidamente corri até lá, descalçando logo as sapatilhas. Deixei a areia encobrir os meus pés ao mesmo tempo que pequenas ondas do mar se aproximavam lentamente de mim. Paul rapidamente me alcançou, entrelaçando os seus braços nos meus. Sentamo-nos numas dunas não muito longe da água, enquanto ele me encostava ao seu peito. Senti os músculos do seu corpo relaxados, o que me causou um sorriso nos lábios.
Enquanto ele afastava cada madeixa do meu cabelo, impedindo que a visão ficasse tapada, cheguei a minha face até à sua. Beijei-o suavemente, tentando interpretar o que os meus sentimentos me diziam para fazer. E no fundo, senti que estava correcto. O meu coração estava a guiar-me naquele momento. Já não queria saber da missão nem de nada. Estava completamente entregue ao que o destino me tinha reservado. Mas será que Paul fazia parte das suas meticulosas acções? Apesar de não ter uma resposta concreta quanto à pergunta em si, deixei-me levar pela corrente.
O tempo passava à nossa volta enquanto nos deixávamos levar pelo beijo que parecia durar uma eternidade. A noite já se instalara, espalhando as estrelas de forma a iluminar o céu nocturno. Era uma visão belíssima e ainda era mais, porque estava a observá-la com Paul. Mas estes sentimentos eram tão repentinos e de certa forma tão misteriosos que nem sabia o que fazer. Mas o coração ditava agora as regras e por ele deixei-me seguir, fazendo aquilo que a meu ver estava de facto correcto.
Não nos mexíamos por um minuto que fosse, apenas deixando os lábios submeter-se à vontade de cada um. Mas tanto ele como eu sabíamos que já eram horas de ir. Por isso e por um acto realmente inesperado, pegou-me ao colo com extrema facilidade. Encostei-me ao seu peito, sentindo o calor do seu corpo a transbordar e o seu coração com o normal batimento cardíaco. Sossegou-me por momentos e estava completamente relaxada perante ele. Eu gostava dele. Gostava imenso dele.
Pouco tempo depois tínhamos chegado a casa da senhora Howell, sendo a própria a abrir-nos a porta. Quando me fora a despedir dele, Christine fizera questão em convidá-lo para passar a noite. Era uma noite tardia e as horas já não convinham nada a ninguém que andasse por aí sozinho. A ideia até era boa, muito boa na minha opinião, até que a senhora Howell me piscara o olho com um sorriso bordado nos seus lábios. Será que ela tinha feito aquilo por mim? Mais uma coisa à qual precisava de retribuir um dia.
Subi pelas escadas até chegar ao meu quarto, sendo seguida por Paul. Uma coisa que passara por mim foi o facto de onde iria ele dormir. A porta atrás de mim fechou-se rapidamente, provocando o mínimo barulho possível. Troquei a minha roupa pela camisa, deixando pronta para dormir. No entanto, ele olhava para mim de uma forma querida e que me parecia inocente. Deitei-me na cama, enquanto ele fazia o mesmo pondo-se a meu lado. Beijou-me carinhosamente o pescoço, deixando-o arrepiado perante o seu gesto. Trouxe-o para junto de mim, até que os nossos corpos ficaram novamente juntos. Beijou-me os lábios e correspondi, movendo-se em conformidade com os dele.
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