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sexta-feira, 11 de março de 2011

Eternity - 5º Capítulo


Capítulo 5

Rapidamente me vi debruçada sobre os descalces das estalactites a fluírem naturalmente pelo tecto. Várias vezes tive que me desviar das estalagmites douradas que reflectiam o brilho próprio, emitindo aquela pequena luz que vira quando estava no meio da escuridão envolvente. No meio daqueles cruzamentos quase desalinhados, encontrei uma zona lisa e arenosa. Ajoelhei-me serenamente e passei as mãos pela fina areia que se apresentava diante dos meus olhos. Aos poucos fui levantando as mãos, já carregadas de um manto dourado, vendo cada vez mais de perto o brilho intenso que observava.
Aos poucos, fui tentando caracterizar tudo o que podia daquele reconfortante e brilhante tesouro natural. Era como tudo na vida que permanecia oculto sem se deixar notar, aparecendo apenas nas alturas mesmo inesperadas. Encolhi-me naquele espaço fechado, sabendo que não deveria ter agido daquela maneira para com o Paul. Mas nada podia fazer para remediar as coisas. Eu estava literalmente morta, renascida como um ser invisível à vista humana com asas de anjo encrespadas nas costas. Aos poucos, fui tentando procurar pistas nos pequenos cubículos dos meus pensamentos.
Estava ressentida com a eternidade por me ter dado algo que não queria. Tudo o que queria no último momento era que se deixava invadir em mim e deixar-se materializar no seu estado bruto. A desolação por medo da integridade fez-se alongar por vastos séculos em profunda agonia, criando uma nítida barreira que me afastava de todo o sofrimento possível. Mas apenas um vago conjunto de acontecimentos mudaram tudo como se tudo aquilo que tinha feito não tivesse servido para nada. Alphonse era daquelas pessoas honradas pelo seu propósito de vida, porém, tornava-se num autêntico teimoso que insistia em ajudar sem nunca desejar nada em troca.
Pouco recordava da minha vida passada, aparecendo apenas em mente imagens repetidas no entanto desfocadas demais para conseguir perceber o realismo nelas contidas. Agora nada no meu passado me ajudava, sendo apenas fotografias daquilo que outrora fui. Tinha uma missão, mas nem tinha pistas sobre o que seria. Era como andar às cegas à procura de algo inexistente no vazio. Mas agora com o facto de estar hospedada em casa da senhora Howell, tinha que me precaver. Não queria de todo que ela descobrisse quem eu era mas tinha que retribuir a gentileza que me dera a troco de nada, o que me recordava de uma forma constante a imagem do meu amigo à minha frente.
Com o meu súbito desaparecimento da zona florestal em que eu fitara o animal morto, sem fazer um único movimento. Paralisado na morte prematura que o levara no preciso instante em que a vida o deixara. Simplesmente me afastei do sangue que se deixava correr pela terra à sua volta, deixando-a manchada e tingida daquilo que significava a essência da morte. E quanto a Paul? O que estaria ele a fazer? Será que ele tinha reparado na minha fuga? Definitivamente não. Nunca ninguém chegou até esse ponto para comigo. Nem necessitavam porque já sabiam como eu era. Sabia cuidar de mim própria da maneira que mais me convinha.
Mas agora estava tudo diferente. Os tempos eram outros, assim como as situações exigentes. O passado era temeroso e doloroso, mas o presente já era de nós próprios. Quando me haviam dito da missão que me fora incumbida, senti um certo peso por cima dos meus ombros. Diziam que eu era a única a poder concretizá-lo, no entanto respondi que não conseguia. Estava revoltada com a nova vida que adquirira. Pensava que era puro egoísmo e parte deles altruístas em terem-me dado aquilo que eu não queria. Agora vivia com uma maldição nas mãos, encarcerada num exílio eterno com algo que sempre me lembrava do fardo que carregava.
Ergui ligeiramente os joelhos e levantei-me, afastando a areia colada à roupa e às partes desprotegidas do meu corpo. Procurei pela entrada por onde tinha entrado neste espaço acarinhado e dourado. Ainda estava ali mas tinha algum receio de voltar a entrar por aquele sítio horripilante. Olhei para o lado oposto e vi uma abertura na parede. Fui até lá e pousei as minhas mãos em cima da rocha toda repartida. Pareceu ter sido feito há já muito tempo e este lugar sofreu bastante por ser explorado daquela maneira.
A natureza também sofria, embora muita gente não se desse conta. A abertura parecia conduzir a um túnel que se perdia no escuro. Consegui avançar e despedi-me daquele belíssimo lugar, prometendo a mim mesma que só viria cá quando fosse necessário. Comecei a avistar a saída e passei rapidamente para o exterior. O sol punha-se no horizonte, enquanto o mar ainda lançava pequenas ondas contra a areia, arrastando-a de novo consigo para o seu leito num ciclo repetitivo. Por cima da colina que dava acesso à praia, via-se uma moto estacionada. Era a do Paul. O que estaria ele a fazer por aqui?
Senti uma mão quente a tocar-me nos ombros, acalentando cada músculo do meu braço. Por ser uma sensação agradável, decidi salvaguardá-la. Mas quando me virei, vi o Paul. Estava com um olhar de preocupado e os seus lábios cerrados, sem pronunciar uma única palavra. O olhar dele era profundo e senti que ele queria dizer algo, mas que ainda não tinha arranjado coragem para tal. Por fim abriu a boca e num gesto amigável, falou:
- Ainda bem que te encontrei aqui. Desapareceste assim de repente e fiquei preocupado. – Afastou as mãos dos meus ombros, voltando a sentir as brisas do vento a sobrevoarem as arestas do meu corpo. – Já estava para ver o que tinha de justificar à senhora Howell.
Era bom ver que alguém se preocupava, embora o tempo em que nos dera a conhecer fosse pouco. Voltamos logo para a casa de Christine, vendo-a à porta juntamente com Rachel. Saltei logo da mota, entregando o capacete a Paul. Entrei dentro de casa e dirigi-me para o meu quarto, seguindo caminho para a casa de banho tomando um banho calmo e relaxante. Voltei para o quarto, com uma tolha enrolada à volta da cintura. Vesti rapidamente a camisa de pijama, buscando a roupa usada à casa de banho para pô-la num canto do quarto.
Deitei-me na cama e fechei os olhos. Por mais que quisesse, não conseguia deixar de pensar no Paul. Era estranha a sensação que ele me provocava com um simples toque. Consegui adormecer pouco tempo depois, ainda com ele na minha mente.

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