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segunda-feira, 28 de março de 2011

Eternity - 11º Capítulo


Capítulo 11

Poucas horas faltavam para o meio-dia, tendo-me já levantado apenas há alguns instantes. Observava, com um sorriso nos lábios, a tranquilidade com que dormia Paul. Após uma noite junto dele, poucas certezas tivera sobre o que faria a seguir. Tinha um cargo como anjo, mas já não desejava obedecer à missão que me fora incumbida. Agora só desejava permanecer a seu lado. Talvez a eternidade em si até nem seja má de todo. Deu-me uma oportunidade que achei ser única. Uma oportunidade de o conhecer.
Cassie, Cassie, Cassie.
De novo, alguém me chamava. Mas desta vez, sabia quem o fazia. Saí do quarto e fui em direcção à porta de casa, à medida que a voz se aproximava cada vez mais. Rodei a maçaneta da porta e olhei para o lado de fora. Nada via, até que olhei para o céu azul. Vi um outro ser como eu a chegar perto do solo, acalmando a batida das suas asas brancas. O seu olhar estava cansado, assim como as suas vestes pareciam gastas o suficiente para se romperem a qualquer momento. Mas soube logo que era ele, o único amigo a que me dera a conhecer. Alphonse.
- Andaste outra vez nas tuas saídas, não foi? – Perguntei, ao cruzar os braços arqueando uma sobrancelha fazendo com que parecesse que estava a tomar uma posição de gozo.
- Goza à vontade que é muito bonito. – Respondeu de fora um pouco cínica.
Este meu amigo pelos vistos nunca vai mudar. Usualmente desfrutava da sua privacidade reflectindo sobre um assunto qualquer, deitado na maciez de uma nuvem vizinha. Mas desta não esperava. Não acreditava que ele tinha vindo mesmo cá à terra. E com que propósito o havia feito? Perguntas e mais perguntas que talvez continuariam no vazio sem algo que as complete de todo.
- Então…pode-se saber o que fazes por aqui? – Perguntei, sem o mínimo de interesse, embora sentisse um pouco de curiosidade. – Que eu saiba, não tens nenhuma missão cá.
- Pensei que poderias precisar de ajuda. – Caminhou na minha direcção e pousou uma das mãos nos meus ombros. – Quantos mais, melhor.
Eu nunca precisei de ajuda para nada, pois sabia muito bem desenvencilhar-me sozinha. Mas por muito que escutasse as palavras de Alphonse, nada em concreto parecia ser realista. Ele não me estava a contar tudo.
- Agora a sério. – Olhei-o de frente, dando-lhe uma expressão razoável e completamente fingida. – Por que é que vieste à terra?
A sua boca continuava calada e nem um gesto fizera para sinalizar uma resposta. Estaria envergonhado demais para me dizer ou não confiava suficientemente em mim para mo dizer? Tinha que dizer algo para que o silêncio se quebrasse.
- Tenho alguém a quem proteger agora. – Falou, separando a sua mão de mim virando-me as costas. – E mandaram-me enviar uma mensagem para ti. Penso que terá a ver com a tua missão.
Uma mensagem? Mas de quem seria? Agora estava demasiado embrenhada nos sentimentos e pensamentos que mal tinha tempo para me direccionar no verdadeiro caminho que me trouxera. Sendo assim, estava disposta a ouvir. Soltei as minhas asas, como um acto de respeito para com ele, sendo uma espécie de símbolo de confraternização entre os anjos que o faziam.
- A barreira que divide os nossos mundos, quer o eterno quer o terrestre, está a fragilizar. Pelos vistos, algo interferiu com o seu equilíbrio e pedem a tua ajuda, sendo que tu és a única capaz de o resolver.
Cada palavra que dizia era silenciada com seriedade. Ele estava a falar a sério. Mas como seria eu capaz de resolver algo que nem sequer tinha o mínimo de conhecimento possível?
- Tens que te sacrificar para salvares este mundo e o nosso. – Perante aquilo que ouvia, o meu corpo havia-se petrificado.
Agora que tinha encontrado um pouco de paz e um sentimento novo junto de Paul, isto tinha de acontecer. Se bem que tinha de cumprir o meu propósito. Acima de tudo, estava o meu dever. Os sentimentos eram-me preciosos, mas será que eu estaria disposta a arriscar tudo? Após alguns minutos de palavras aleatórias que pouco sentido fazia, Alphonse fora ter com aquela que lhe fora designada como sua protegida. Contudo, o bater das suas asas ao elevar-se nos céus pareciam tristes e algo abalados.
Voltei para dentro de casa, vendo o tempo a passar com um raio de luz. Paul permanecera todo o dia a meu lado, acariciando-me o rosto com um beijo que, um após o outro, se tornava algo que estaria sempre na minha memória. A noite previamente havia chegado. Ele levantara-me ao colo, dirigindo-se para o quarto onde a demonstração dos nossos sentimentos ocorrera pela primeira vez. Deitou-me à ponta da cama, enfiando-nos aos dois por debaixo dos lençóis trazendo o meu corpo para junto do seu. Um calor extremamente agradável invadiu de novo a minha pele e talvez fosse isso que precisava para me acalmar um pouco.

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