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quarta-feira, 9 de março de 2011

Eternity - 4º Capítulo, 2ª Parte


Capítulo 4 - Parte 2

A cada segundo, fui ficando com os nervos em franja. Comecei a recuar, pois não conseguia estar de frente com a morte. Era algo natural para alguns de nós que ainda não estavam habituados à transição para anjo, mas como eu ainda era uma simples e novata que ainda renegava toda a eternidade que lhe fora dada numa bandeja de prata, não aguentava ver o sangue quanto mais estar perto dele. Senti uma mão segurar a minha poucos segundos depois, mas não mudava o facto de me sentir petrificada. Eu queria sair dali. Eu tinha que sair.
- Sentes-te bem? – Inquiriu Paul, desviando a sua atenção daquilo que fora outrora um animal directamente para mim. De certeza que viu o estado em que ficara depois de presenciar aquela visão arrepiante. – Não é preciso ficar assim em tamanho alarido. De certeza que isto foi um acto de vandalismo contra a reserva.
Apesar do que ele havia dito me soar como a verdade impregnada, tudo me parecia indicar que fora outra coisa que fizera isto. Isto tudo já me estava a afastar do propósito que me trouxera cá, embora ainda não soubesse o que é que supostamente deveria fazer. Desejava soltar as minhas asas brancas e voar dali para fora, para longe do sangue, algo que queria mesmo evitar a todo o custo. Mas se assim fizesse, ele saberia o que eu era. E não saberia como reagir ou o que dizer para o pôr a par de tudo o que a realidade escondia. Tinha mesmo que sair daqui depressa.
- Não tenho tanta a certeza quanto a isso. – Respondi por fim. Finalmente uma palavra que me saíra da boca. – Quero ir embora, de preferência já.
Não sabia com que tom devia utilizar para dizer, mas nada me saía como queria. A voz saiu quase rouca e pressa por um fio invisível que parecia retrair tudo aquilo que via, tudo aquilo que dizia. Quase impossível de negar o que se passava. No meu interior, gritava sem cessar. Aquilo que estava a ver era apenas uma ilusão, só podia. Não queria acreditar no que os meus sentidos me suscitavam. Esfreguei os olhos e olhei de novo para o animal. Estava tal e qual como o vira. Comecei de novo a recuar, pronta para fugir a qualquer minuto incessante.
Paul olhava atentamente para o que sobrara do animal quase irreconhecível, o que me deu tempo para recuar ainda mais e fugir o mais rápido possível. Pelo caminho ramos embateram-se contra os meus braços, arranhando-os compulsivamente como se estivessem zangados por os ter incomodado na sua tranquila paz. Tentei correr o mais que pude, mas tudo o que consegui foi voltar à praia onde tinha pela primeira vez pousado os meus pés, reflectindo com naturalidade a minha chegada silenciosa.
O vento soprava com benevolência contra cada fio de cabelo, fazendo esvoaçar sem o mínimo esforço exigido. A areia começava a entrar pelos cantos das sapatilhas, o que me incomodava um pouco ao andar. De repente, comecei a pensar no Paul. Como estaria ele depois de o deixar no meio da floresta? Se o visse de novo, não saberia o que dizer ou fazer para me poder justificar pela minha acção revoltada. Mas tive que fazê-lo. Não podia estar ali. Ter qualquer tipo de contacto com morte recente deixaria um anjo totalmente desarmado e impotente.
Avistei uma espécie de gruta ao longe, que parecia localizar-se na outra ponta da praia. Comecei a caminhar, sabendo que aquele meu acto de fugir pudesse parecer de total cobardia. A cada momento em que pensava como tudo estaria lá em cima, a primeira coisa que me viera à mente fora a imagem de Alphonse. Sempre protector e de alguma forma irritante sendo por vezes sarcástico, mostrava sempre uma faceta amigável para com os demais. Fora o meu único amigo naquele paraíso desconhecido. Mas às vezes, quando estamos algum tempo separados daquilo que nos realmente faz falta, é quando se apercebe que deveríamos dar mais valor àquilo que nos restava.
A mim só me restava uma eternidade amaldiçoada por um capricho de outros anjos que me deu a conhecer pelo menos um amigo entre milhares de desconhecidos. Uma coisa boa no meio disto tudo. Mas deparei-me com um pensamento um tanto estranho: onde se inseria a senhora Howell no meio disto tudo? E quanto àquela estranha sensação que se acomodou num encaixe perfeito quando senti as mãos de Paul contra as minhas? Tantas evidências sem qualquer explicação possível, pelo que procurava um sentido para todas elas.
Naquele preciso momento, mirava precisamente a entrada da gruta. A superfície que se conseguia ver até onde a minha visão me limitara parecia irregular, no entanto, dava para passar. Entrei lentamente, deixando a claridade natural do sol desaparecer e dar lugar ao escuro do interior da gruta. Levei ambas as mãos às paredes, para ter uma orientação mais ou menos para onde iria ir. Agora para trás já não ia, visto que como os meus olhos mostravam a escuridão daquele lugar.
Não havia luz, apenas um espaço vazio. Avancei cada vez mais sem saber aonde ia parar, até que avistei uma luz fraca. Caminhei na sua direcção, tentando alcançá-la. Após passar por uma segunda entrada estreita pelo seu formato apedrejado, fiquei a olhar para uma raridade que poucas grutas ou cavernas possuíam. Era um visão deslumbrante e ao mesmo tempo que entendia que era tudo natural, parte da magia da natureza.

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