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sexta-feira, 18 de março de 2011

Eternity - 8º Capítulo


Capítulo 8

Supostamente deveria estar contente por saber que ainda existiam pessoas com tão bom carácter como a senhora Howell, o Paul e a tal Rachel. Mas não estava. Por mais que tentasse um sorriso, acabava por levar ao mesmo. Sentia que estava a ser descuidada. Tinha uma missão a cumprir e havia sido por isso que tinha vindo à Terra. Enquanto anjo, tinha certas obrigações a cumprir. O instinto de cumprir o nosso dever era algo que nascia connosco no princípio da fase de mudança de alma. Mas rejeitava a eternidade que me percorria pelas veias.
Parecia estar a rejeitar aquilo que eu era e que certamente pelo padrão normal deveria orgulhar-me do que era e que tinha um novo objectivo e um jeito novo de começar a vida. Mas eu não merecia tudo aquilo, assim como não tal dádiva como aquela. Se pudesse voltar a fazer tudo na minha antiga vida e impedir aquilo que acontecera, de certo estaria tudo numa rotina bem melhor da que tenho agora. Mas não havia volta a dar, pois cada passo que dava era definitivo. Permanente no seu significado e que perdurava durante anos irremediáveis.
Mas agora me parecia tão real quanto o possível me proporcionava. Já não pertencia àquele mundo terreno. Era um ser diferente dos vivos, parecendo estar viva mas no entanto não o estava. As aparências podiam tanto iludir como mentir e esconder este segredo portador de uma verdade que tinha medo em contar seria como um aperto no coração. Seria correcto se pudesse desabafar com alguém sobre o facto de eu ser um anjo? Devias deixar-me de coisas e pensar no meu objectivo. A missão, Cassie, a missão.
Mas depois Paul aparecera de forma repentina na minha mente. Aparecia entre as imagens rotativas que me faziam lembrar os filmes que rodam a preto e branco, seguindo em movimento cada traço físico que se apresentava. Ele conseguia chamar a minha atenção de uma forma estranhamente absurda, mas não conseguia desviar os meus pensamentos dele. Quer dizer, ele era bem constituído e assim, mas o que mais me impressionara fora o seu acto de generosidade para com a senhora Howell e para comigo.
A Rachel tinha sorte em tê-lo como namorado. Mas depois ainda havia outras perplexidades confusas demais para tentar compreender. Só o facto de ter encontrado Alphonse numa das minhas memórias, deu-me vontade de rir sem parar. Mas ele era um bom amigo, isso não o negaria. Mas tinha aquela persistência impertinente que me fazia por vezes perder a paciência, tanto quanto aos nossos superiores. Sabia que o melhor era esperar pelo rumo dos acontecimentos, como me havia dito anteontem.
Mas confiar em algo que só nos desiludiu durante anos e anos a fio seria como um tiro no escuro. Não se sabia se acertaríamos no alvo concreto, pois apenas ouviríamos o som desgastado da bala a sair da arma em direcção ao nada. Seria arriscar numa hipótese remota, mas que serviria com o intuito de não desistir à primeira. Decidi conformar-me com o conselho de Alphonse, fazendo adaptar-se à minha própria maneira de ser. E como será que tudo que irá passar quando tudo estiver terminado? Será que o rumo da vida continuará?
Quanto a isso, eu tinha a certeza que seguiria com normalidade, mas não pensava se alguém sentiria porém a minha falta. A minha cabeça já estava tão emaranhada naqueles pensamentos repulsivos e sem sentido nenhum que começa a provocar-me insónias. O sono não era algo fácil de apagar, mas era possível. Mas era como estar a lutar contra as nossas necessidades. A eternidade representava para mim uma grande ameaça, porque nunca estaria descansada nem suficientemente calma para seguir com a minha nova vida. Mas tinha sido uma decisão tomada pelo consílio e tal não se podia renegar.
Quando me lembrava das primeiras vezes como era um pouco descuidada nas primeiras lições de voo, fazia-me pensar acerca do meu passado longínquo. Já não sabia de nada sobre mim própria, pois já não tinha os mesmos modos que outrora me foram chegando como um simples suspiro natural. Mas seria eu a escrever um novo capítulo e mais ninguém. Eu tinha de dar o primeiro passo e aceitar aquilo que era, embora doesse mais do que tudo. Seria a profundidade dos pensamentos contraditórios a ganhar asas e decidir cada acção por mim tomada. Mas tinha que ter consciência do que ia fazer.
Observei por instantes o sol a nascer de novo, do lado de fora da janela do quarto. A cada minuto ia-se levantando mais um pouco, estendendo o seu brilho pela terra firme. Um novo dia ia começar, mas não sabia em que é que isso ia mudar. Tinha a missão para cumprir, ao mesmo tempo que tinha de agradecer toda a generosidade de Christine para comigo. Ia esconder as minhas asas de tudo e todos quanto possível. A altura para contar ia chegar a qualquer momento.
Apenas tinha de esperar para ver o que acontecia, ao mesmo tempo que pistas se reuniam na palma das minhas mãos, sem saber bem o que eram ou que pretendiam que eu fizesse com elas. Nem sequer sabia o propósito da missão, mas tinha que confiar nas sábias palavras dos arcanjos. Era uma decisão tomada por todos. Eles postaram a sua confiança em mim e eu não os ia desiludir. Levantei-me da cama, afastando os lençóis para trás. Despi a camisa de pijama e vesti novamente a minha roupa, pronta para sair do quarto e esperando que o resto do dia me pudesse correr bem.

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