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segunda-feira, 14 de março de 2011

Eternity - 6º Capítulo


Capítulo 6

Cassie. Cassie. Cassie.
O constante chamamento do meu nome apenas serviu para me fazer acordar e levantar a cabeça, à procura do dono da voz. Nada via. Apenas o semblante escuro da noite protegida. Voltei a deitar-me para a junção do sono sobre as pestanas. Deve ter isso apenas o vento. Sim, deve ter sido só isso. Escapei de novo à realidade, imergindo nos sonhos escondidos na profundidade da minha mente subalterna da eternidade. Como era possível continuar com a minha vida para a frente se aquela maldição teimava sempre em aparecer à minha frente?
Cassie, acorda.
Afinal não tinha mesmo uma alucinação de todo. Voltei a abris os olhos e procurei por cada canto o dono daquela misteriosa voz. Denotava a insistência ao carregar a última palavra. A sintonia com que falava como se me conhecesse há já muito tempo, a confiança com que pronunciava cada palavra como se de um suspiro se tratasse. Só havia uma pessoa capaz de me incomodar a uma hora destas. De certeza que se tratava dele. Quase nunca me enganava e por pouco falhava nas minhas deduções.
- O que queres, Alphonse? – Murmurei, enquanto retinha os olhos adormecidos pelo cansaço junto do conforto que vinha da almofada.
Finalmente. Estava a tentar contactar-te há dias. Abre os olhos e olha para mim.
Acabei por fazer o que me pedira, levantando-me da cama com pouca facilidade. Esfreguei os olhos numa tentativa de deixar passar a dor residente que se entranhava neles. Para todos os lados olhei e nada via. Nem uma pessoa, nem sequer Alphonse. Estaria a ter uma alucinação típica da Terra? Mas também havia uma coisa intrínseca: precisava de ausentar a minha humanidade, ou o que restava dela, e soltar as minhas asas para o poder ver. E assim fiz. Asas brancas cravadas nas minhas costas reflectiam o brilho da noite para cada uma das suas plumas. Comecei por ver uma imagem desfocada, no entanto, deu para perceber que era o Alphonse.
- Alphonse, és tu? – Perguntei surpreendida.
Estava estranho, pois nunca o vira assim. Parecia uma espécie de forma aparente, diferente de algum anjo que alguma vez eu tinha visto ou conhecido. Pouco nítida, consegui ver um sorriso nos seus lábios tremidos. Estava com dúvidas ainda maiores pelo que se passava por ali.
Claro que sou eu. Pensavas que era quem? O arcanjo Gabriel?
E mais uma vez, o seu sarcasmo deixou-se ver. Era incrível como em algum tempo que estive fora, ainda nem tinha mudado nada. O seu comportamento permanecia o mesmo, a sua atitude igual à que conheci pela primeira vez. Ajeitei um pouco o cabelo para trás das orelhas e ergui a minha face na sua direcção. Tinha que esclarecer umas coisas.
- Pode-se saber o que és agora? Ou pelo menos, aquilo que me mostras em vez de ti?
A teu ver, sou apenas um espectro. Digamos que ganhei uns novos truques enquanto estiveste fora, minha cara.
- O que tu chamas de truque, eu chamo de Projecção Astral. – Respondi cruzando os braços, ainda impressionada com o que via à minha frente.
A aquisição de novos poderes por parte dos anjos só se daria quando se salvava alguém importante. Mas não consegui captar a ideia ou quem teria Alphonse salvo para conseguir a Projecção Astral. Ainda me intrigava só o facto de ter ganho algo, mas de certa forma ficava feliz por ele. Tinha feito um enorme esforço para chegar até onde chegou como anjo. E estava em divida para com ele. Ele fora o meu único amigo em todo o paraíso nefasto.
Como queiras. – Soltou as suas mãos dos bolsos das calças e olhou para mim, como se algo de estranho se tivesse passado. – Tenho-te observado ultimamente. Tens consciência do perigo em que estiveste quando estavas a poucos centímetros do sangue?
- Aquilo foi apenas uma coincidência. – Encolhi os ombros e levei as mãos às ancas, apostando numa posição um pouco fora da minha. – Mas a situação por si era estranha. Um animal morto daquela maneira chama atenção a mais, não achas?
Pressupondo do principio que deste com ele numa zona remota da floresta, parece natural. Mas tem cautela. Nunca se sabe o que poderá acontecer num momento daqueles. E espero mesmo que não te arrisques de novo daquela maneira.
- Eu sei muito bem o que faço, obrigada. – Respondi, sentando-me na ponta da cama. – Foi a mim que me confiaram a missão. Tenho plena confiança nos meus instintos e eles sempre me guiaram no bom caminho.
Não eras tu quem detestava a eternidade acima de tudo?
- E ainda detesto. Estar presa a uma vida que não mereço não é justo para ambas as partes. E não sei mesmo o que tenho de fazer ao certo.
Confia em mim. Tudo a seu tempo se revelará. Tens apenas que te deixar levar pelo rumo dos acontecimentos. Vive entretanto no meio dos vivos enquanto tentas recolher pistas. Agora tenho que ir. Precisam de mim no consílio.
- Voltarás de novo para falarmos? – Perguntei, reprimindo qualquer vontade de dizer as saudades que teria dele.
Claro, sua tonta. Até qualquer dia.
E pouco a pouco, a sua forma espectral foi desaparecendo até que se deixou de ver num sopro gelado que se arrastava pelas freixas da janela semi-aberta. Fechei-a de seguida e deitei-me de novo na cama, arremessando os lençóis por cima de mim, devolvendo-me o sono. Agora tinha que descansar.

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