Eternity - 3º Capítulo

Capítulo 3

- O que deseja? – Perguntei gentilmente.
Eram duas pessoas que estavam à porta. Uma rapariga que já por si era bonita da cabeça aos pés e um rapaz que parecia ter saído de um ginásio depois de ter feito um regime intenso de horas forçadas, trazendo apenas as calças vestidas e as sapatilhas. Assim que ambos me olharam com um ar estranho e confuso, porém, reparei no olhar que o rapaz me impingia. Os seus olhos eram castanho-escuros embora parecessem ocultos e relativamente intrínsecos, enquanto o seu cabelo tinha um tom de negro forte.
Usava dois pendentes ao pescoço e quando ele repara que estava a olhar para ele, corei instantaneamente. No entanto, a rapariga de nada tinha igual em relação a ele. Apresentava cabelo comprido da mesma cor que ele embora o negro fosse menos carregado, chegando a ser um preto suave mas belo.
- Quem és tu? – Perguntou a rapariga arqueando as sobrancelhas, surpreendida.
Fingi não me sentir insultada nem nada do género. Batem à porta e depois perguntam quem são? É estranho, de facto.
- Rachel, querida. – Ouvi uma voz por detrás de mim. Era a senhora Howell. Dei-lhe espaço para ficar também frente a frente com aqueles que estranhamente tinham vindo cá.
- Christine, que bom vê-la. – E deram um rápido abraço amigável, separando-se de seguida. Pareciam conhecer-se de algum lado, por isso, decidi nem sequer meter-me no meio da conversa à qual não era chamada ao assunto. – Quem é esta rapariga?
Fiquei como que embaraçada pois os olhares de todos os que estavam ali dirigiram-se rapidamente para mim. Não gostava de ser o centro de atenções. Tinha que tomar alguns percalços quanto a isso.
- É a minha neta. – Respondeu a senhora Howell, formando um sorriso abafado no seu rosto. Sua neta?! Uau. Por esta, não estava à espera. – Veio viver para cá enquanto os pais estão em negócios pela Austrália.
Eu era muito má a mentir, no entanto, Christine tinha uma sapiência merecedora de louvor. Quem diria que iria recorrer a uma ideia espontânea e transformá-la numa resposta alternativa. Mas foi muito simpática para comigo. Apesar de começar com estas palavras quase incompreensíveis na minha mente, ela continuou.
- Que bom. – Respondeu a rapariga que desconhecia. – Já tem um membro da sua família aqui consigo. Já não se vai sentir sozinha. – Virou de novo a sua visão para mim e estendeu-me a mão. – Sou a Rachel e este aqui comigo é o Paul.
Olhei de relance para ele e o meu pulsar começou a correr desenfreadamente dentro do meu corpo. O seu olhar seguia o meu numa busca estranha porém desconhecida, no entanto, estendi o meu braço em sinal de boa cortesia. Pegou solenemente na minha mão e apertou sem fazer o mínimo de força. Senti uma corrente eléctrica a percorrer o toque nas nossas mãos, afastando-a de seguida. Ele olhava-me com uma percepção confusa, quando eu achava que aquilo era do mais estranho.
- Sou a…a…Cassie. – Disse por fim, pondo fim ao instante que me distanciava da breve e rápida resposta.
Ambos sorriram e isso só contribuiu com que eu ficasse cada vez mais corada. Eles eram desconhecidos por mim, mas conhecidos pela senhora Howell. Devia mostrar simpatia para com eles. Enquanto Rachel e Christine iniciavam uma conversa cujo termos já não pertenciam ao meu dicionário, cruzei um olhar frontal com Paul. Apenas sorriu quando me viu fazer aquilo, o que me fizera lembrar do preciso momento em que a minha mão se encostou na dele quando o cumprimentava. Aquela sensação mexera comigo, no entanto, não percebia o que era. Nem tentava perceber, sequer.
Entramos todos em casa da senhora Howell e acabamos por tomar um pouco de chá, enquanto Paul iniciara o seu ataque às sandes mistas preparadas por mim, enquanto remexia nas coisas que havia no frigorífico da cozinha e juntava tudo em duas fatias de pão seco. Não tinha grandes habilidades no que tocava a cozinhar, mas fazer uns lanchezinhos era o mínimo que podia fazer. Trocamos conversas das quais não tivera há já muito tempo. Nunca me sentira assim tão…aberta com alguém desde que passara a linha da vida e me transformara numa simples alma que acabou por se transformar num anjo.
Um anjo que não merecia ter tudo aquilo, que não merecia a eternidade mesmo quando todos os outros anjos me diziam precisamente o contrário. Achavam que estava a ser muito dura comigo própria. Mas eles não sabiam. Não sabiam o que eu tivera que passar quando estava viva. Talvez me pudessem compreender se soubessem do meu triste passado, mas nunca os quisera preocupar demasiado. Acabei por deixar de lado pensamentos que de nada tinham a ver com o momento e entrei de novo na conversa, sorrindo a cada palavra que pronunciavam.